No dia em que se comemoram os 64 anos da
Declaração Universal dos Direitos Humanos, uma reflexão sobre a esquizofrenia e hipocrisia do dito "mundo ocidental", com um extrato do livro de Jean Ziegler "O Ódio ao Ocidente", seguido do
lead de um artigo de Eduardo Febbro no Carta Maior:
"A Declaração Universal dos Direitos Humanos, tal como foi adotada pela Assembleia Geral das Nações Unidas, a 10 de dezembro de 1948, é herdeira, designadamente, da Declaração de Independência dos Estados Unidos, tal como esta última foi proclamada em Filadélfia a 4 de julho de 1776.
Com Benjamin Franklin, Thomas Jefferson foi o redator principal da Declaração de Filadélfia. Na sua morte, em 1826, ele deixou aos seus herdeiros, além das terras imensas na Virgínia, a plena propriedade de mais de duzentos escravos.
O artigo 1 da Declaração Universal de 1948 diz isto: «Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade.»
O artigo 3: «Todo o indivíduo tem direito à vida à liberdade e à segurança pessoal.»
Ora, em 1948, três quartos da Humanidade viviam sob a férula colonial. Nos acampamentos dos trabalhadores forçados das plantações de borracha do Camboja as crianças morriam de subalimentação, da poluição da água e da malária.
No Gabão, nos Camarões e no Congo-Brazzaville, os capatazes das sociedades florestais francesas agrediam com chicotes cravejados de pregos, até fazerem sangue, os lenhadores demasiado fracos, demasiado doentes para conseguirem abater o número exigido de árvores.
Em Kivu, em Maniema, em Cassai, os administradores belgas penduravam nos ramos das árvores, pelos seus punhos algemados, os trabalhadores das minas suspeitos de furto; quando a gangrena já tinha feito o seu trabalho, o supliciado era desatado, e as suas mãos amputadas.
Durante todo este tempo os estados ocidentais, principais estados membros das Nações Unidas na época, festejavam todos os anos, a 10 de dezembro, os nobres princípios dos direitos humanos. O que não retira, aliás, nenhuma validade aos princípios em questão. Mas isso não deve distrair-nos um só momento dessa capacidade que os ocidentais têm de ditar a lei aos outros sem que a apliquem a si próprios. É que essa capacidade, que roça a esquizofrenia, é impressionante."
Fonte: Extrato do livro "
O Ódio ao Ocidente", de
Jean Ziegler, 2008. Edição portuguesa de outubro 2012, Temas & Debates, Círculo de Leitores.
(introdução da versão brasileira aqui)
"
As democracias ocidentais têm grandes dificuldades para esconder o rabo do diabo. As potências que no interior do Conselho de Segurança da ONU promovem resoluções em defesa dos Direitos Humanos ou para condenar o regime sírio, egípcio, líbio ou iraniano são as mesmas que venderam a esses regimes - e a outros - o material tecnológico necessário para vigiar e reprimir a oposição. A hipocrisia é uma regra de ouro: a comunidade internacional invoca os valores por um lado e, pelo outro, entrega com chaves nas mãos os instrumentos tecnológicos usados para submeter os povos."
Fonte: Artigo de
Eduardo Febbro "
Ocidente equipa serviços de espionagem de países que condena",
Carta Maior, 26/03/2012